Sunday, August 05, 2007

Hoje cheguei à conclusão de que devemos por vezes fazer esforços, ainda que sejam contra os nossos princípios e ideais, para dar sempre o beneficio da dúvida. Gosto de ir para a cama, deitar a cabeça no meu travesseiro e pensar que fui o mais sensato possível. Desde pequeno que sempre achei que uma das coisas importantes da vida passa em dar uma oportunidade a quem erra. É o mais carreto. Claro que serão oportunidades comedidas, não será de esperar que se falhe à 4ª vez e ainda se dê a 5ª oportunidade para demonstrar que existem casos que nunca mudarão. Cada caso a sua sentença.

Saturday, August 04, 2007

A arte (ou o defeito) de não papar comerciais

Sempre fui um osso duro de roer para as campanhas comerciais. Por muitos motivos: sou teso; moderadamente consumista e moderadamente materialista. Mas há mais. Para começar sou preguiçoso. O tipo de cara que não adere a uma tarifa fantástica de celular pura e simplesmente porque nem se dá ao trabalho de um estudo comparativo de tarifas. Finalmente, nunca fui muito avant garde em quase nada da minha vida e isso drasticamente se reflete na lentidão com que me possam convencer que o produto x me faz falta.
Mas há uma característica mais amadurecida e refinada que tenho que me torna (ainda) um osso mais duro de roer para as vendas. Analiso as pessoas, sempre, compulsivamente. A cada atitude, lá estou eu a indagar-me da justeza e da motivação das atitudes do meu interlocutor. E das minhas atitudes, e dos meus pensamentos. Ser emocional é fantástico: deixar-se ir, por ela nos faz esquecer da razão. E claro, pode trazer presentes envenenados: tornar-nos escravos da manipulação dos outros: cenouras à frente do nariz, escolha alheia do rol dos nossos sonhos, amargura de perda daquilo que nem sabemos que não quereríamos realmente se pensássemos bem.Vender é isso: criar no outro a ilusão de que o que temos para vender lhe faz falta. Ao ponto de no outro passa a ser obsessão esse objetivo. Comprar.
Eu, pelo menos em alguma medida, desmistifico o sonho e apercebo que aquela coisa fantástica que me vendem, e que por vezes nos meus sonhos eu compro, seria uma bengala para a minha felicidade coxa, mas que na realidade não tornaria uma perna tão comprida como a outra. Se quero que a minha felicidade corra de nuvem em nuvem, não é de um novo tênis, uma camisa de determinada marca, o celular do momento que me salvarão. Embora reconheça que a ilusão me salvaria um pouco mais... Acho que é por isso que tenho pouca paciência para comerciais. Quando conhecemos os truques de magia, o mágico parece-nos um charlatão. E acho que é por isso que nunca quis ser eu próprio um: odiaria vestir a pele do tal lobo. E depois há outra coisa: as estratégias de venda. Há mil estratégias de venda e eu sei que não saberei sequer da missa a metade.

Sunday, July 29, 2007

"O bater por estes lados das asas de uma borboleta pode causar um terremoto na China." A frase é mais ou menos esta.A mim, a idéia sempre impressionou. E é por isso que tenho grande alergia à possibilidade de causar terremotos, sobretudo na China dos outros. Entenda-se. Sinto-me muito pouco confortável com a idéia de que aquilo que eu faça possa influir na desventura alheia. Mesmo quando dou conselhos aos amigos, me seguro na estratégia de discursar em delta.Comigo não há conselhos, não sou um GPS, na melhor das hipóteses, sou um mapa. Abro opções, o resto é com você. Porquê? Porque me apoquenta essa responsabilidade de fuder com o mundo dos outros com a minha desajeitada pata de elefante. Posto isto já posso passar ao ponto dois do meu raciocínio.
Os tiranos em particular e os moços com poder abstrato sempre me intrigaram. A capacidade que essa gente tem de influenciar, manipular, decidir.Não se trata de coisa tão pouca como possa parecer. A cada momento exercer a faculdade de afetar o destino do próximo e não viver com uma azia brutal. É daquelas coisas que eu creio que exijam muita convicção ou pouca humanidade. O Inferno, como o vejo, é o interlúdio eterno em que os nossos súbditos nos vêm narrar das suas vidas que prejudicamos.