Antes
de tudo, essa é uma crônica de gratidão. Um agradeçimento a Deus porque nesse
ano, apesar das dificuldades, fui capaz de avançar na direção daquilo que
sempre sonhei. Por que agora, estou pronto, apto a pisar com passos firmes por
esse caminho difícil, mas gratificante, que é fazer o que se gosta. Quero
agradecer também por todos que de alguma forma cruzaram meu caminho. Com alguns
aprendi, ensinei a outros. Essas experiências me fortaleceram, me tornaram um
pouco mais sábio. Agradeço porque durante esse ano não me faltou dinheiro. Por
que o senhor me concedeu saúde, porque me livrou do mal, acalentou meu coração
quando precisei. Peço perdão pelo afastamento, de alguma forma, daquilo que
considero comunhão com Deus. O dia-a-dia, os afazeres, o trabalho enfim, subterfúgios
que ao longo do ano acabaram por “mascarar” aquilo que tenho por verdadeiro.
Faço minhas, as palavras de Joan Pulz. Fiquei preso num
labirinto frenético. Levantando quando o relógio determinava. Bombardeado por
manchetes de jornal que parecem remotas e além do meu alcance. Extenuado por
todas as operações mecânicas que nos lançam à atividade e à produtividade.
Testado pelo tráfego, forçado a calcular tempo e distância a nível do segundo.
Elevadores, telefones e engenhocas guiam-nos pelas interações necessárias e
mantêm as interações humanas superficiais e num nível mínimo. Minha
concentração é interrompida por momentos de euforia e pequenas crises. No fim
do dia, a autorebobinação: tráfego, automação, manchetes, até que o alarme do
relógio impõe a acordar de amanhã. Rotinas de procedimentos e de timing. Pouco
espaço para responder humanamente e com humanidade aos eventos diários; pouco
tempo para adentrar a sabedoria e o vigor e a promessa de suas oportunidades.
Sentindo a vida sufocando-me, confinando-me e moldando-me. No entanto, A minha gratidão é por que, em determinados
momentos, a graça de Deus, tem me levado a reconhecer isso. Nenhum dos meus
fracassos na fidelidade mostrou-se terminal. Vez após outra uma graça radical
agarrou-me nas profundezas do meu ser, levou-me a aceitar a posse das minhas
infidelidades e conduziu-me de volta ao quinto passo do programa dos AA:
"Reconhecer diante de Deus, de outro ser humano e de mim mesmo a exata
natureza de minha transgressão". O perdão de Deus tem sido a minha
libertação gratuita da culpa, todos os dias. A alternativa entre a realidade e
o fio da espada.
Me emociona muito um filme bem
antigo, mas que assim como a música do John Newton, fala diretamente comigo.
O homem que
não vendeu a sua alma “A man for all seasons”, foi vencedor do Oscar de
1966. É o emocionante relato real da fidelidade de um homem a si mesmo e a Deus
a todo custo. Thomas More, primeiro-ministro da Inglaterra, foi aprisionado na
Torre de Londres por recusar-se a obedecer à Coroa. Ele é visitado por sua
filha Meg, que implora que ele mude de ideia para salvar sua vida. More explica
que, se jurasse lealdade a Henrique VII, estaria sendo infiel a sua consciência
e traindo Jesus. Ela argumenta que não é culpa dele que o Estado seja em sua
maior parte corrupto (e como é), e que se escolher sofrer por ele estará
assumindo para si mesmo o papel de herói. O pai replica: "Meg, se
vivêssemos num Estado em que a virtude fosse lucrativa, o bom senso nos faria
bons e a ganância nos faria piedosos. E viveríamos como animais ou anjos na
feliz terra que não carece de heróis. Mas já que normalmente vemos a avareza, a
ira, a inveja, o orgulho, a preguiça, a luxúria e a estupidez rendendo muito
mais do que a humildade, a castidade, a bravura, a justiça e a ponderação, e temos
de escolher ser humanos de todo, talvez devamos então perseverar um pouquinho,
mesmo ao risco de nos tornarmos heróis". Em 1535, More foi para o
cadafalso alegremente na liberdade de rei do homem cristão. Ele orou brevemente
pela misericórdia de Deus, abraçou seu executor — que implorou perdão —,
confessou sua fé cristã e conclamou os presentes a orarem pelo rei, dizendo que
morria "bom servo do rei, mas de Deus em primeiro lugar". Suas
últimas palavras foram uma piada sobre sua barba, que ele dispôs sobre o
cadafalso de modo que não fosse cortada, já que sua barba pelo menos não era
culpada de traição. Thomas More, homem do mundo, vestindo trajes seculares,
vivendo numa cidade secular e cercado por família, posses e pelas obrigações da
vida pública, foi FIEL. Não porque era livre de falhas e pecados;
ele os tinha, como todos nós, e confessou-os muitas vezes antes de morrer.
Mas com
todas as suas fraquezas e falhas ele fez a escolha radical de ser verdadeiro
consigo mesmo e com seu Cristo no supremo teste do martírio.É isso que desejo
pra mim. Não ser um herói, mas, um maltrapilho que reconhece suas fraquezas e
se regozija no pleno desejo de Deus que é de nos resgatar a despeito de tudo.Vou terminando
por aqui, agradecendo a ELE, porque sua graça tem me trazido de volta pra casa
todos os dias.