São raros esses momentos, quando não se preciosa de nada além do que se tem...
Cais Flutuante
Parar para viver... essa é a minha provocação.
Monday, November 25, 2013
Thursday, December 27, 2012
A realidade e o fio da espada
Antes
de tudo, essa é uma crônica de gratidão. Um agradeçimento a Deus porque nesse
ano, apesar das dificuldades, fui capaz de avançar na direção daquilo que
sempre sonhei. Por que agora, estou pronto, apto a pisar com passos firmes por
esse caminho difícil, mas gratificante, que é fazer o que se gosta. Quero
agradecer também por todos que de alguma forma cruzaram meu caminho. Com alguns
aprendi, ensinei a outros. Essas experiências me fortaleceram, me tornaram um
pouco mais sábio. Agradeço porque durante esse ano não me faltou dinheiro. Por
que o senhor me concedeu saúde, porque me livrou do mal, acalentou meu coração
quando precisei. Peço perdão pelo afastamento, de alguma forma, daquilo que
considero comunhão com Deus. O dia-a-dia, os afazeres, o trabalho enfim, subterfúgios
que ao longo do ano acabaram por “mascarar” aquilo que tenho por verdadeiro.
Faço minhas, as palavras de Joan Pulz. Fiquei preso num
labirinto frenético. Levantando quando o relógio determinava. Bombardeado por
manchetes de jornal que parecem remotas e além do meu alcance. Extenuado por
todas as operações mecânicas que nos lançam à atividade e à produtividade.
Testado pelo tráfego, forçado a calcular tempo e distância a nível do segundo.
Elevadores, telefones e engenhocas guiam-nos pelas interações necessárias e
mantêm as interações humanas superficiais e num nível mínimo. Minha
concentração é interrompida por momentos de euforia e pequenas crises. No fim
do dia, a autorebobinação: tráfego, automação, manchetes, até que o alarme do
relógio impõe a acordar de amanhã. Rotinas de procedimentos e de timing. Pouco
espaço para responder humanamente e com humanidade aos eventos diários; pouco
tempo para adentrar a sabedoria e o vigor e a promessa de suas oportunidades.
Sentindo a vida sufocando-me, confinando-me e moldando-me. No entanto, A minha gratidão é por que, em determinados
momentos, a graça de Deus, tem me levado a reconhecer isso. Nenhum dos meus
fracassos na fidelidade mostrou-se terminal. Vez após outra uma graça radical
agarrou-me nas profundezas do meu ser, levou-me a aceitar a posse das minhas
infidelidades e conduziu-me de volta ao quinto passo do programa dos AA:
"Reconhecer diante de Deus, de outro ser humano e de mim mesmo a exata
natureza de minha transgressão". O perdão de Deus tem sido a minha
libertação gratuita da culpa, todos os dias. A alternativa entre a realidade e
o fio da espada.
Me emociona muito um filme bem
antigo, mas que assim como a música do John Newton, fala diretamente comigo.
O homem que
não vendeu a sua alma “A man for all seasons”, foi vencedor do Oscar de
1966. É o emocionante relato real da fidelidade de um homem a si mesmo e a Deus
a todo custo. Thomas More, primeiro-ministro da Inglaterra, foi aprisionado na
Torre de Londres por recusar-se a obedecer à Coroa. Ele é visitado por sua
filha Meg, que implora que ele mude de ideia para salvar sua vida. More explica
que, se jurasse lealdade a Henrique VII, estaria sendo infiel a sua consciência
e traindo Jesus. Ela argumenta que não é culpa dele que o Estado seja em sua
maior parte corrupto (e como é), e que se escolher sofrer por ele estará
assumindo para si mesmo o papel de herói. O pai replica: "Meg, se
vivêssemos num Estado em que a virtude fosse lucrativa, o bom senso nos faria
bons e a ganância nos faria piedosos. E viveríamos como animais ou anjos na
feliz terra que não carece de heróis. Mas já que normalmente vemos a avareza, a
ira, a inveja, o orgulho, a preguiça, a luxúria e a estupidez rendendo muito
mais do que a humildade, a castidade, a bravura, a justiça e a ponderação, e temos
de escolher ser humanos de todo, talvez devamos então perseverar um pouquinho,
mesmo ao risco de nos tornarmos heróis". Em 1535, More foi para o
cadafalso alegremente na liberdade de rei do homem cristão. Ele orou brevemente
pela misericórdia de Deus, abraçou seu executor — que implorou perdão —,
confessou sua fé cristã e conclamou os presentes a orarem pelo rei, dizendo que
morria "bom servo do rei, mas de Deus em primeiro lugar". Suas
últimas palavras foram uma piada sobre sua barba, que ele dispôs sobre o
cadafalso de modo que não fosse cortada, já que sua barba pelo menos não era
culpada de traição. Thomas More, homem do mundo, vestindo trajes seculares,
vivendo numa cidade secular e cercado por família, posses e pelas obrigações da
vida pública, foi FIEL. Não porque era livre de falhas e pecados;
ele os tinha, como todos nós, e confessou-os muitas vezes antes de morrer.
Mas com
todas as suas fraquezas e falhas ele fez a escolha radical de ser verdadeiro
consigo mesmo e com seu Cristo no supremo teste do martírio.É isso que desejo
pra mim. Não ser um herói, mas, um maltrapilho que reconhece suas fraquezas e
se regozija no pleno desejo de Deus que é de nos resgatar a despeito de tudo.Vou terminando
por aqui, agradecendo a ELE, porque sua graça tem me trazido de volta pra casa
todos os dias.
Wednesday, December 26, 2012
Saturday, July 07, 2012
III. PADRÃO
O esforço é grande e o homem é pequeno.
Eu, Diogo Cão, navegador, deixei
Este padrão ao pé do areal moreno
E para diante naveguei.
A alma é divina e a obra é imperfeita.
Este padrão sinala ao vento e aos céus
Que, da obra ousada, é minha a parte feita:
O por-fazer é só com Deus.
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma
E faz a febre em mim de navegar
Só encontrará de Deus na eterna calma
O porto sempre por achar.
O grande Fernando Pessoa!!!
Sunday, July 01, 2012
O texto bem elaborado vai sempre sugerir, nunca impor conclusões. Cabe à imaginação do leitor construir ou desconstruir o lido... tudo se desenrola em contextos ocultos, nunca visualizados, mas infinitamente imagináveis. Quando escrevo, gosto de me aproximar desse cenário, meu domínio é o do implícito... os fatos corriqueiros do dia-a-dia, podem ser a apenas fatos... ou não. Melhor concebê-los em forma de prosa e dela extrair o que a fantasia e a imaginação serão capazes de inferir.
Thursday, June 21, 2012
Ao longos dos anos, e, mais precisamente os últimos quatro, muita água já passou por baixo da ponte. Quatro anos foi tempo suficiente pra amar e "desamar" mais que uma meia duzia de vezes, chorar e aprender que isso é normal, ganhar a confiança de alguém e perder a confiança em outros, fazer inúmeros amigos e perder alguns também. Ganhar dinheiro suficiente e ser largado na rua da amargura, conhecer o grande amor da minha vida e entretanto aceitar, depois de algumas taças a mais de vinho, que aquele será sempre um amor impossível.
Foi tempo suficiente pra dar boas risadas, curtir viagens a lugares inesquecíveis, ler bons livros e começar a escrever o meu próprio. Foram tempos em que a esperança e a fé por vezes faltaram. Ao longo desses anos aprendi um outro idioma, conheci lugares e pessoas, fui influenciado por muitas delas e descubro hoje, com sentimento de profunda gratidão que também influenciei algumas.
Levei muito tempo pra entender que a ansiedade e insegurança, a despeito de toda e qualquer bagagem de conhecimento e experiência adquiridos ao longos dos anos no banco da universidade, sempre irão dar as caras nos momentos mais inoportunos. Elas fazem parte da natureza humana. Mas estou aprendendo também, que quando sossego e deixo o futuro e as aspirações na mão de Deus, todas as preocupações vão se tornando coisa nenhuma.
O futuro, como diz o poeta, muda a nossa vida sem pedir licença e depois convida a rir ou chorar. Nesse futuro não me interessa ser ator coadjuvante, quero ser o principal. Quero conhecer novos rostos, ler novos livros, quero ficar exausto ao fim do dia e ainda assim ter tempo pra uma caminhada na praia - isso mesmo meu futuro próximo terá alguma praia - quero deixar a porta do coração entreaberta aos amores possíveis e os impossíveis, ainda que perca com isso algumas noites de sono. Quero voltar a frequentar a igreja e o mais importante, ter tempo pra Deus, abrir mão do cigarro, ganhar dinheiro, acordar mais cedo, falar menos, ouvir mais...
...continua.
...continua.
Thursday, June 14, 2012
Agreste
Os dias pra mim possuem uma dualidade de sensações. Há os que amanheço leve, flutuando como um passaro, os planos a fluir na mente, confiante, os olhos se abrindo diante de um céu azul, o horizonte bem definido na mente, quase a levitar. Noutros, tudo é diferente, o sopro das reminiscências soa mais alto, a natureza parece
estática. Sou contraditório
dentro de uma coerência cotidiana. As noites, essas me recebem sob o agasalho da recatada intimidade.
Delicio-me com os fins de tarde, quando a luz perde a imponência maior e o gradiente se torna escuro.
Pode parecer estranho; mas é no escuro que meus olhos fisgam o
imperceptível.
Acordo, imbuído do prazer estelar da noite que passou. E, no entanto, o quarto de dormir se deixa banhar pelos feixes do sol. A janela, devasso-a para respirar o oxigênio da renovação. Tenho sede de vida; vou vigiar o lusco-fusco com o intuito de entregar-me por inteiro à sabedoria dos despojados. Antes, todavia, há muito o que fazer: irei ao banco, pagarei contas, comprarei um novo livro, aborrecer-me-ei novamente com a monografia. O corpo se cansará na rede imbricada das relações formais e, depois, o cansaço da labuta me impelirá ao claustro — ao quarto de estudo. Apagarei a luz, deitarei no chão, então rapidamente me recuperarei dos inúteis afazeres.
Estou a salvo agora. Tomo um banho. Purifico-me. O ritual do sossego se inicia: no silêncio da noite e na placidez de Sabina, tocando no mp3. A essa hora não ouço os ruídos da fuleragem na casa ao lado, a velocidade dos carros na rodovia próxima, o burburinho de vozes em conversas desinteressantes, as discórdias do mundo... Escuto apenas a quietude da lua despontando à meia-noite.
Não penso em nada. Quero esvaziar-me das nódoas de um insípido dia. Sinto-me completo na liturgia da noite; é tempo de apreciá-la. Vou sair e tomar uma cerveja sozinho. Circunvolunção, e agora, e depois do agora, e o mesmo agora, e o presente dilapidando o instante, e Clarice Lispector a se perguntar pelo “é”... é isso ai só ela e, talvêz, Drummond me compreenda agora.
Fecho os olhos. Enxergo-me. Mergulho na ausência das coisas para depois absorvê-las com maior intensidade. Foi não foi, é necessário uma faxina interior, rasgar as emoções com a intenção de substituí-las. Qual o quê! Não serei capaz de anular minhas lembranças ou meus atos; por mais que me esforce, é vão todo o propósito. O inconsciente se encarrega de reter o que quero e o que não quero também. Um jogo de subjetivações para o qual me doo com um certo gozo. Preciso sair e beber um pouco.
O tempo firma a madrugada. A cerveja desce ao embalo de um vazio proposital. E não há como escapar da menor recordação: chego à conclusão de que o meu problema é tão somente esquecer... Impossível. A memória define minha identidade. O resumo do meu “eu” corresponde ao espaço da evocação. Assim, em um poço de oposições, vou edificando dias e noites. Sobrevivendo sem arranhões.
Amanhã, acordarei mais vivo e escreverei sob a ode das cores, até berrantes, quem sabe? Hoje estou negro. Ao modo de Drummond: “estou escuro, estou rigorosamente noturno, estou vazio”.
Acordo, imbuído do prazer estelar da noite que passou. E, no entanto, o quarto de dormir se deixa banhar pelos feixes do sol. A janela, devasso-a para respirar o oxigênio da renovação. Tenho sede de vida; vou vigiar o lusco-fusco com o intuito de entregar-me por inteiro à sabedoria dos despojados. Antes, todavia, há muito o que fazer: irei ao banco, pagarei contas, comprarei um novo livro, aborrecer-me-ei novamente com a monografia. O corpo se cansará na rede imbricada das relações formais e, depois, o cansaço da labuta me impelirá ao claustro — ao quarto de estudo. Apagarei a luz, deitarei no chão, então rapidamente me recuperarei dos inúteis afazeres.
Estou a salvo agora. Tomo um banho. Purifico-me. O ritual do sossego se inicia: no silêncio da noite e na placidez de Sabina, tocando no mp3. A essa hora não ouço os ruídos da fuleragem na casa ao lado, a velocidade dos carros na rodovia próxima, o burburinho de vozes em conversas desinteressantes, as discórdias do mundo... Escuto apenas a quietude da lua despontando à meia-noite.
Não penso em nada. Quero esvaziar-me das nódoas de um insípido dia. Sinto-me completo na liturgia da noite; é tempo de apreciá-la. Vou sair e tomar uma cerveja sozinho. Circunvolunção, e agora, e depois do agora, e o mesmo agora, e o presente dilapidando o instante, e Clarice Lispector a se perguntar pelo “é”... é isso ai só ela e, talvêz, Drummond me compreenda agora.
Fecho os olhos. Enxergo-me. Mergulho na ausência das coisas para depois absorvê-las com maior intensidade. Foi não foi, é necessário uma faxina interior, rasgar as emoções com a intenção de substituí-las. Qual o quê! Não serei capaz de anular minhas lembranças ou meus atos; por mais que me esforce, é vão todo o propósito. O inconsciente se encarrega de reter o que quero e o que não quero também. Um jogo de subjetivações para o qual me doo com um certo gozo. Preciso sair e beber um pouco.
O tempo firma a madrugada. A cerveja desce ao embalo de um vazio proposital. E não há como escapar da menor recordação: chego à conclusão de que o meu problema é tão somente esquecer... Impossível. A memória define minha identidade. O resumo do meu “eu” corresponde ao espaço da evocação. Assim, em um poço de oposições, vou edificando dias e noites. Sobrevivendo sem arranhões.
Amanhã, acordarei mais vivo e escreverei sob a ode das cores, até berrantes, quem sabe? Hoje estou negro. Ao modo de Drummond: “estou escuro, estou rigorosamente noturno, estou vazio”.
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