Friday, September 03, 2010

Vinho é a vingança masculina ao sapato da mulher. Sempre cabe mais uma garrafa na adega!

Amores...

Parar de fumar, ir à igreja com mais frequência, fazer musculação, abandonar a raiva e o orgulho, meditar, aprender alguma coisa nova, desaprender várias outras… Transformar-se para ela, deixar que minha vida se torne um presente a ser lentamente degustado por... ela. Passar dias planejando momentos inesquecíveis, vestir-se bem, comprar presentes, dirigir, ou melhor, comprar o carro antes, por horas seguidas, abrir portas, perguntar “Está frio demais aqui dentro?”, e tudo aquilo que um homem presente e atento faz. A potência que deseja sexo é a mesma que deseja amar. E amar é isso: agir a favor da felicidade do outro.

Wednesday, September 01, 2010

Gourmandisses

Não sei se por conta de sua beleza, elegância... mas o certo é que o prazer de cozinhar e partilhar com os amigos mais chegados um bom prato ao fim de tarde, jogando conversa fora é sempre maior quando faço alguma das receitas dessa chef luso-brasileira... ai vai uma ótima que espero fazer por esses dias...

Ingredientes
Em primeiro lugar, pegue uma variedade de queijos de sua escolha em fatias, dando preferência àqueles que derretem melhor, como mussarela de búfala, emmental suíço, camembert, cheddar e gorgonzola.

Separe ainda duas fatias de presunto cru (ou frios de sua preferência), meia pimenta dedo-de-moça sem semente e finamente picada, folhas de coentro e tortilhas (aquela massa fina em círculo que se encontra em muitos supermercados e que fica ótima quando recheada e tostada na chapa).
  
Preparo
Numa frigideira antiaderente, em fogo médio, coloque uma tortilha (pode ser uma pizza brotinho sem recheio). Por cima dela, ponha seus diferentes tipos de queijo, as fatias de presunto cru (ou outro tipo de frios), a pimenta picada e, por último, algumas folhas frescas de coentro. Tampe com outra tortilha e deixe tostar, virando dos dois lados até o queijo se derreter. Sirva imediatamente, enquanto está quente, com um fio de azeite por cima e uma taça de paralelo 8.

 ah, esqueci da companhia... tão importante quanto o vinho!

DONNA





Para Fernanda


O lounge era agradável, descontraído e simpático. Era fim de tarde e uma nesga de luz solar entrava pela janela dando um tom dourado ao ambiente. Ele chegou primeiro pediu um vinho, safra 2009 e ficou observando o sol cair no horizonte por trás da ponte presidente Dutra. Nem havia acreditado direito quando, ontem à noite no telefone ela havia aceitado seu convite para um happy hour. Ficou tão ansioso que custou a adormecer. Vagueava pelos pormenores; o restaurante, a melhor vista da cidade, o cardápio requintado e apetitoso, o vinho ideal para embalar a conversa... Lembrou que ela não bebia. Era evangélica. Por isso ele resolveu chegara antes e pedir apenas para si. Escolheu um paralelo 8, tinto intenso, como ele imaginava, se pretendia esse encontro. Sentado no piso inferior, uma espécie de reservado com meia dúzia de mesas, e paredes forradas de garrafas, ele podia escutar os risos e aplausos que ecoavam no andar de cima. Ficou imaginando as palavras do amigo Fábio, professor de enologia da faculdade, se estivesse ali com ele:
- Está vendo, aqui temos a prova de que o vinho torna as pessoas mais alegres.
Lá fora, um Honda FIT estaciona do outro lado da rua. De dentro sai uma jovem mulher com jeans escuros, blusa de malha branca e cabelos amarrado no alto da cabeça em um rabo de cavalo elegante. Ela tranca o carro, aciona o alarme, olha o relógio, pega o celular e disca um número. Eles se conheceram nos tempos de faculdade. Isso já fazia quatro anos. Ela uma morena de cabelo castanho, longo, porte elegante, sorriso espontâneo, era de longe a garota mais bonita da classe. Ele, loiro, olhos de um verde claro, frequentemente confundidos com azul, em um primeiro momento, a imaginou como namorada. Descobriu logo em seguida que ela já tinha um. Era previsível, afinal, as mulheres interessantes sempre tem. Nos anos que se seguiu, quase sempre estiveram em lados opostos. Em comum, apenas as convicções religiosas. Era a primeira vez, desde que fora para o Recife fazer mestrado, que voltava ao sertão. Chegara no dia anterior e já partiria amanhã novamente. Ligara apenas para desejar feliz aniversário, mas resolveu fazer o convite para jantar no dia seguinte e ela aceitara.
    No bolso da camisa pólo preta, ele sente o celular vibrar. É ela querendo saber se ele já chegou. Dá-se conta que alguma coisa nele havia mudado. A pontualidade nunca fora seu forte, nem mesmo para encontros amorosos, o que não é o caso agora. Levanta-se, sorri, dá um beijo amigável no rosto dela. Nota o perfume suave que ela usa que ele imagina não ser francês, afinal os franceses são fortes e esses, ele odeia sentir. Afasta gentilmente a cadeira para que ela sente, chamam o garçom com um gesto, pede uma salada niçoise    cigat, pergunta o que ela gostaria de beber, e ela pede uma água com gás.
    Depois de tanto tempo longe, ficou imaginando o que ela estaria a fazer da vida. Será que casara, tinha filhos, no que estaria trabalhando? Pelos cálculos ela teria agora 25 anos. Nos tempos da faculdade, não se lembrava de tê-la ouvido falar em fazer mestrado. Nas poucas vezes em que conversavam, ela deixava escapar que gostava de nutrição. A mulher que está agora na frente dele, falando sobre as conquistas e realizações nos últimos quatro anos, é uma edição melhorada da garota de antes. A menina irrequieta e insegura quanto ao futuro, tornara-se uma mulher sofisticada e confiante em sua própria capacidade. De repente, começou a imaginar o que aconteceria se desse em cima dela, pondo, por exemplo, a mão na dela sobre a mesa. Desistiu. Queria mesmo era a amizade dela. Eram mil e uma as perguntas que lhe queria fazer... será que devia? Perguntar acerca dos relacionamentos, falar acerca dos seus, enfim amenidades entre amigos. Fazendo uma analogia com o vinho, ele imagina a morena à sua frente, como um espumante produzido em anos de vidima excepcional, com aroma e sabor complexos e ao mesmo tempo delicados. Ao fim do encontro, com um abraço e um beijo respeitoso no rosto, ele se despede com a certeza de que, decididamente ele e a amiga sabem viver os momentos em que o caráter e a sofisticação se combinam.

O fugitivo

Foi assim: era domingo, uma daquelas tardes tediosas que parecem acumular um legado de lembranças. Tardes de reverberações em que as horas representam o somatório de uma semana em despedida. O rosto traçado em linhas finas, dotado de aparência delicada. As solicitações de um mundo em efervescência impeliam-no a cuidar de sí com mais determinação. Na verdade, estava cansado de submeter-se às órdens de um cotidiano que exigia dele o máximo de doação. Há muito vinha pensando em tomar a decisão de morar sozinho, ter oportunidades, decidir horários, enfim, conhecer-se a si mesmo sem interferências alheias. Mas viver exige coragem; ele acovardou-se tanto, que qualquer movimento em contrário, lhe parecia tardio. Ouviu o ruido do vento entrando pela janela e decidiu tomar um pouco de scotch. Apanhou o copo, despejou o líquido âmbar, deitou quatro pedras de gelo, nem mais nem menos, quatro pedras de gelo de tamanho regular. E redondas. Ao lado do copo alinhou o guardanapo, abriu a gaveta do armário, apanhou a caixa de marlboro, acendeu um. deixou a sala com ar introspectivo, e dirigiu-se para o quarto. Precisava amadurecer as ideias. a tarde se esvaia num domingo pesado de reflexões. a cada quinze minutos uma badalada. ele tomava para sí a galhardia de agir com autonomia, de rebelar-se contra uma situação tão cômoda, de crêr na possibilidade de singularizar-se como alguém que vive, que tem vontade própria. Que carece de um mínimo de privacidade para contruir-se em identidade. Crescia uma revolta interior a sugar-lhe por dentro, como que roubando sua inconciência. Já nem falava em consciência, essa diluira-se na monotonia da vida atual. Falava de algo involuntário, que para ele representava um novo núcleo existencial. Não poderia aquiescer às inúmeras reividicações do mundo que o cercava; ele, porém, tinha um nome, e aspirava à dificil condição e ser. Á sombra dos últimos momentos da tarde, ele retirou a mala do guarda-roupa. Lentamente colocou umas peças de roupa, dois livros, o cd do John Legend…, Ouviu o celular tocando. Era ela que convidava para um chopp em algum bar boêmio da cidade. “Precisamos sair para alegrar a noite, nada como um chopp e um bom papo… onde vamos?” Ele alega indisposição física e nâo confirma o encontro. Deambula pelo quarto, num ir e vir sem norte. Estava tonto. tonto de desejos desconhecidos, tonto de apelos infantis, tonto e nesgas de independência. De soslaio, como um fugitivo de algum calabouço medieval, saiu do quarto e deixou a porta aberta. Foi assim: tudo aconteceu numa tarde de domingo sombria, tediosa e carregada dos dias da semana que passara. Foi assim exatamente assim que ele quebrou os laços de uma vida medíocre…